Editorial

Essa segunda edição serve para consolidar a existência de nossa Revista Quimera, com 6 novos artigos originais. O tema Tradição e Ruptura é abraçado em seus diversos nuances nessa edição, desde a postura subversiva de uma clínica que privilegia o sujeito e sua liberdade até a tradição já sólida da Redução de Danos construída nos últimos 35 anos. 

Em nossa coluna Mandrágora, convidamos neste número a psicanalista e redutora de danos Andrea Domanico, que, em entrevista, registra o início da clínica ampliada e a entrada de um novo olhar sobre a questão das drogas no Brasil. Fala da construção do É de Lei e das mudanças no campo nas décadas de 1990 e 2000. 

Nesse mesmo tom histórico, Reflexões sobre a História e experiência do CAPS II AD Santo Amaro, escrito por um grupo de profissionais deste serviço, narra a trajetória do pensamento antimanicomial e a construção da RAPS a partir da ilustração da prática clínica desse serviço, terminando com uma afirmação contundente: “se a tradição são os macro-hospitais psiquiátricos, a equipe se identifica como ruptura. Se a ruptura são as comunidades terapêuticas e as organizações sociais, a equipe se compreende como tradição. “

Já Fabio Carezzato, em Comentários sobre o uso de psicodélicos na clínica, trabalha o tema do uso de drogas como a Ayahuasca, LSD e psilocibina em tratamentos de saúde mental, articulando seus mecanismos terapêuticos com a direção do tratamento psicanalítico. Nesta reflexão, tradição e ruptura se confundem em questões como o uso destas substâncias, antes proscritas, de uma maneira análoga a outras medicações psiquiátricas ou da maneira como experiência psicodélica pode ser transformadora para o sujeito em contraposição a alienação.

Trabalhando também os lugares políticos possíveis do uso de drogas na vida de uma pessoa, Katia Varela Gomes traz em A mulher, o corpo e as práticas em saúde: uma análise do tratamento da dependência às drogas pela biopolítica a discussão sobre o controle da norma sobre os comportamentos. A partir de uma leitura de Foucault, desenvolve como uma atitude estigmatizada pode ser uma via de ruptura com um poder opressor. Ilustra esse argumento com os casos das mulheres que fazem uso de drogas, debatendo o controle sobre seu corpo e seu prazer.

Ainda no resgate histórico, Celi Cavallari e Doris N. Cavallari constroem com Pandemia COVID-19 – da ruptura traumática ao resgate pela palavra uma analogia da pandemia do COVID com a peste negra. Ao discutir as dificuldades enfrentadas pela nossa sociedade frente ao adoecimento e as restrições impostas pela disseminação mundial do vírus, buscam pensar a elaboração a partir do encontro e do compartilhar de narrativas, buscando na obra tradicional de Decameron um exemplo sobre o falar como cura.

Na mesma linha, Diva Reale traz, em sua resenha DRUK: um brinde à amizade, um olhar perspicaz sobre o filme mais recente de Vinterberg, que enxerga mais além ao uso da bebida alcoólica e percebe como essência do filme a elaboração do luto a partir dos laços de amizade. Trabalha o contexto da vida do diretor na construção do filme e a apresentação do uso da droga em uma perspectiva “brincalhona”. 

Por fim, na coluna Drogas BE-A-BÁ, temos uma contribuição do site Ciência Psicodélica, em um texto de autoria de Nathan Fernandes, que em tom jornalístico nos traz informações sobre a história, política e usos da Ayahuasca, explicitando a diversidade desta bebida.

Boa Leitura!

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