Contrafissuras institucionais: marcas na equipe de uma transferência fissurada.

Rachado vetor criado por kjpargeter - br.freepik.com
Introdução

O objetivo deste artigo é refletir sobre as marcas contratransferenciais que se reproduzem nos espaços intersubjetivos da equipe clínica no contexto da clínica das drogadições e que se põe em trabalho nas supervisões clínico-institucionais. 

Dialogaremos fundamentalmente aqui com a proposta de contrafissura apresentada por Lancetti (2015), que aponta para a reação fissurada que atravessaria todos os discursos e dispositivos sociais que se debruçam sobre a temática das drogadições no impulso de resolução imediata da questão e na obsessão pelo poder supostamente mágico e onipotente da droga. A contrafissura, segundo o autor, se manifestaria ainda no desejo muitas vezes salvacionista que inspira as equipes que pretendem cuidar dos usuários.

No entanto, parece-nos fundamental poder marcar este fenômeno da contrafissura dentro de seu registro transferencial e, em especial, das múltiplas transferências que se põe em jogo no campo institucional, aprofundando assim a potência clínica de sua proposta. 

Para este intento, nos aproximaremos também de outras referências, tanto àquelas que nos permitem aprofundar uma compreensão psicanalítica sobre o fenômeno das drogadições e os manejos clínicos que comporta (Gurfinkel, 2011; Nascimento, Oliveira, & Soares, 2020; Olievenstein, 1989), quanto de autores que aprofundam a discussão sobre os fenômenos transferenciais nos contextos grupais e institucionais (Lafraia, 2019; Nascimento, 2020; Pinel, 1989). Estas aproximações poderão nos ajudar a reconhecer os restos transferenciais que se capturam das equipes clínicas e o trabalho de elaboração que se faz necessário ali.

Assim, escolhemos como cena de nosso debate a cena clínica de um encontro de supervisão institucional.

Para tal, metodologicamente, iniciaremos expondo uma vinheta clínica de um encontro de supervisão, para posteriormente apresentar alguns referenciais teóricos que nos localizam frente a esta clínica e frente ao complexo jogo de relações postos em marcha no contexto institucional, para então discutirmos algumas considerações sobre os efeitos que o dispositivo da supervisão movimenta e instaura na equipe.

Vinheta clínica – A promessa do ano novo.

Chegamos na última supervisão do ano, marcando aproximadamente um ano do início de nossa intervenção. De lá para cá, muitas águas rolaram até que se conseguisse chegar ao ponto em que estamos atualmente. Nesse momento, percebemos que a equipe tem se apropriado do espaço e o toma como lugar seguro, onde é possível depositar questões múltiplas; sem necessidade de grandes planejamentos falam daquilo que o momento suscita, uma fala reverberando e puxando outras. O que antes já fora um silêncio angustiado, hoje é o esforço de ouvir as heterogêneas vozes.

Neste formato adquirido e construído no decorrer do ano, o encontro tem início com uma breve pausa nas conversas descontraídas, seguida da pergunta “E aí, como estão?” e, a partir dali, passam a associar livremente, quando passamos a ficar atentos às ressonâncias e dissonâncias, nomear as ansiedades que se apresentam, interpretar etc. 

Desta vez, como de costume, perguntamos “Como vocês estão?”, e um certo silêncio seguiu. Após algum tempo uma das pessoas diz que estão bem, que tem se sentido bem no CAPS e que gostaria de falar. Conta que na semana anterior fizeram uma festa de Natal com os usuários que foi muito boa. Não estava no clima de fim de ano, mas depois da festa sentiu um “clima de Natal” e que tudo estava ótimo.

“O Caps te trouxe o Natal?”, ressoamos. E após isso passam a falar brevemente do fim de ano, desse clima natalino e aparece um clima festivo e de finalizações. Passam a falar sobre as férias e uma das trabalhadoras traz uma preocupação: Quem seriam esses que sairiam de férias, e como ficariam os outros aqui, justo em janeiro, quando a procura pelo serviço parece ser maior?

 Incentivamos a falarem mais e outros tomaram a palavra lembrando que em fim de ano os usuários do serviço costumam ter seu quadro clínico agravado, além de haver uma grande procura de novos usuários após as festas.

“Ano Novo, Vida Nova, sabe?” E após isso retorna um certo silêncio. Internamente pensávamos nesse silêncio nas diversas situações de acolhimento em crise que a equipe vinha discutindo nos últimos encontros…

Após um certo tempo em silêncio, a gestora então toma voz. Conta-nos que estava reflexiva pois havia vivido nessas semanas duas situações que a fizeram perceber o quanto a violência está presente no serviço, tanto entre os trabalhadores quanto entre os usuários, e que percebe uma certa reprodução entres os trabalhadores do que é vivido diretamente com os usuários. Diz com firmeza que gostaria de conversar a respeito. 

“Há uma certa mudança no clima da reunião e parece que, acabados os introitos, iam agora para o assunto sério”

Há uma certa mudança no clima da reunião e parece que, acabados os introitos, iam agora para o assunto sério.

Respiram fundo, e a partir daí começam a nos contar em diversas vozes e versões uma situação recente vivida com uma usuária antiga do serviço, que já havia sido tema da supervisão mais de uma vez, que chamaremos de Joana. Contam que Joana estava em acolhida integral e que havia furtado pertences de outros usuários e do próprio CAPS. Essa situação já se repetira em diversas passagens, o que levou alguns profissionais a pedirem para ir a seu quarto e fazer uma breve revista de seus pertences.

Neste ínterim, um dos funcionários a adverte e Joana reage como de costume, de forma bastante explosiva. Sai xingando o funcionário e gritando ameaças de que iria falar para seus filhos (personagens conhecidos do CAPS, bastante violentos e que trabalham no tráfico) que este funcionário havia abusado sexualmente dela (motivo de morte nos códigos disciplinares do crime organizado local!).

Pelo que nos contaram tal cena ocorreu diante de vários espectadores, o que já aparecera no discurso de parte da equipe como uma questão preliminar. Alguns trouxeram a percepção de que só conseguiam intervir com Joana nestes moldes, que nomeavam de “intervenções no corredor” e sentiam que isso a expunha.

Outros profissionais demonstram incômodo com esta interpretação e começa a aparecer uma divisão da equipe no debate em torno do tema que envolve o cuidado de Joana. Esta outra parte advoga que as intervenções com Joana só podem acontecer dessa forma, que justamente seus “prejuízos psíquicos” a distanciavam dos enquadres mais tradicionais e organizados do serviço. Joana fugia dos enquadres mais ambulatoriais do CAPS e exigia essa intervenção na ambiência!

É digno de nota que em ocasião anterior na discussão sobre o caso de Joana a equipe parecia ter concordado conjuntamente com essa leitura, retomando inclusive a ideia de que a usuária os forçava a retomar a essência do CAPS, como esse dispositivo não ambulatorial…

A discordância a respeito de Joana vai se aprofundando quanto mais relatam o acontecido. A discussão vai se tornando acalorada até que relatam que o que havia gerado mais desconforto teria sido o fato de que uma das técnicas referência do caso, enquanto se dava o imbróglio das ameaças e agressões, havia feito uma intervenção convidando Joana para fazer uma hidratação e escova em seu cabelo, seguindo um combinado feito anteriormente. Essa estratégia de cuidado já havia sido discutida em outras ocasiões como uma forma comumente adotada por essa técnica para se aproximar de Joana, que em função de seu histórico de violências, queixava-se muito de sua aparência. Mas apesar de ser algo comum, nesta ocasião aqui abordada foi tratada como uma espécie de traição. Alguns pensavam que assim procedendo ela havia tirado toda a autoridade dos técnicos que a estavam repreendendo. 

A técnica de referência em questão tratou logo de trazer seu ponto de vista. Acreditava que por vezes a equipe parecia lidar com alguns usuários com uma certa autoridade “policialesca”. Compreendia assim que tirá-la daquela cena e fazer o que havia combinado seria uma estratégia de acessá-la de maneira mais suave.

O debate então pega fogo! Diversos profissionais tomam palavra para trazer suas perspectivas, para discutir sobre o diagnóstico da usuária, sobre o quanto ela manipula os profissionais, sobre a gravidade das ameaças que haviam sido feitas etc. Alguns sugerem mesmo que deveria ser feito um B.O. contra a usuária para que ela pudesse entender a gravidade de seu ato.

Entre a tese, de que tratam Joana de forma policialesca, e a antítese, de que pelo contrário, se deixam levar pelas manipulações de Joana e assim escorregam em seu cuidado, um dos profissionais traz uma nova síntese, de que não fazem nem uma coisa nem outra, mas às vezes pecam pelo excesso! Sente que sempre que a Joana fica em cuidado integral ela chega desorganizada, “que nem um demônio da Tasmânia!”, vai se organizando, e seria aí o momento bom para deixá-la sair de alta da hospitalidade, mas ficam com ela “uns dias a mais”, e é aí que ela “causa” com a equipe.

Intervimos apontando o quanto Joana deixava a equipe também como um demônio da Tasmânia e todos riem. Seguimos perguntando sobre o que este caso desperta e o quanto Joana parecia contar de situações limítrofes em sua vida, levando também à equipe aos seus limites… Limites do cuidado, limites da ética, limites da coesão. Será que Joana precisava sair do CAPS sempre brigada? Não conseguia sair quando estava “na alta”, precisava ir para “a baixa”, para sair “de alta”. Será que fazia por onde para que seu cuidado fosse rompido?

Uma médica respondeu imediatamente. “Sobre isso acho que não! A gente nunca deixou de cuidar dela. Nunca rompemos por completo”. Seguiu dizendo que também tem essa impressão do excesso no cuidado, e que de acordo com o diagnóstico da usuária, de transtorno de personalidade, teriam de lidar melhor com as expectativas de prognóstico. Já faziam o melhor que podiam por ela, mas é um caso difícil!

O que poderiam fazer então? A questão de como poderiam melhorar o cuidado começou a surgir de pano de fundo, e junto com ela surgiu o exemplo de outra situação difícil vivida durante a semana.

“O problema é nossa falta de comunicação!”, trouxe uma profissional.

Contou do conflito com Cláudia, usuária em leito de hospitalidade que continuamente tinha de advertir em função da inadequação de seus trajes. Após muitas advertências a usuária se irritou e foi convocada uma assembleia extraordinária, “fazendo toda uma cena!” para informar a todos que a profissional queria ter com ela um caso! 

“Novamente muitas vozes foram ajudando a construir e desconstruir a cena relatada, e aos poucos foi-se esclarecendo que o tema da assembleia não havia sido exatamente esse.”

Novamente muitas vozes foram ajudando a construir e desconstruir a cena relatada, e aos poucos foi-se esclarecendo que o tema da assembleia não havia sido exatamente esse. Persistia, no entanto, para a trabalhadora a sensação de não ter sido defendida pela equipe e deslegitimada pelos colegas que conduziram a assembleia, e pelo fato de, posteriormente no dia seguinte, alguns elogiarem a usuária de estar bela, ignorando justamente os trajes que julgava inadequados.

O fato é que novamente, nessas cenas, nos comunicavam sobre se sentirem mais ou menos validados, sobre estarem certos ou errados em suas condutas, sobre os desencontros e diferentes perspectivas de manejo diante dos casos que acompanhavam. 

“Realmente, precisamos lembrar que não há fórmulas…”, alguém diz, ao que devolvemos “Pode não haver fórmulas, mas há alguns dispositivos” e procuramos relembrar de algumas apostas que a equipe havia sugerido enquanto debatia sobre Joana e Cláudia; não atender sozinhos, compartilhar mais a referência dos casos desafiadores e uma nova proposta, sugerida por eles, de realizar reuniões emergenciais/extraordinárias a fim de pensarem juntos e alinhados o que fariam diante de situações de crise.

Mas como poderiam ficar mais alinhados? 

A pergunta manteve-se sem uma resposta precisa e fomos sentindo as falas ficando mais angustiadas e os olhares para nós mais arregalados. “Todo o problema é um problema de falta de comunicação! Precisamos nos alinhar melhor para eles não nos desarticularem!”. 

Alguns começaram a se queixar também do excesso de fofocas e das comunicações que ficam para fora dos espaços oficiais. Contaram por exemplo, que antes mesmo de chegar ao CAPS, ou após seu expediente, as técnicas de referência eram bombardeadas de mensagens, inclusive com fotos, interrogando sobre quais condutas deveriam ser adotadas diante de situações diversas. Essa mesma situação havia se repetido com a técnica de referência de Joana, que alertada previamente pelas mensagens havia chegado apressada para intervir na cena.

Outra profissional contou a todos em tom de piada que seu celular fazia uma correção automática do texto de CAPS para CAOS, e diz que é um “ato falho” oportuno!

Outro profissional, disse em questionamento “Pois é! Eu trabalho no pronto socorro, mas parece que aqui as coisas são mais urgentes do que lá!” A conversa sobre essas comunicações truncadas foi seguindo e, junto a ela, um forte clima de cobrança por um maior profissionalismo entre os colegas foi aparecendo. Cobraram-se uma melhor organização e até mesmo um maior rigor ético.

Alguém interpelou, “Que este próximo ano a gente consiga deixar as coisas mais leves e consiga se comunicar melhor, se alinhar melhor”, ao que Gabriela interveio:

“Parece que tal qual os usuários vocês estão buscando uma resposta mágica no “ano novo, vida nova”. Será que essa imagem de estarem totalmente alinhados, sem divergências e sem divisões, não está também carregada de idealizações? Parece que vocês se cobram de precisar sempre acertar nas intervenções…”

Apesar do conteúdo supostamente incisivo da intervenção, a resposta da equipe pareceu ser de alívio e o clima do encontro mudou novamente para um silêncio mais contemplativo.

Gabriela continuou então dizendo não ter a impressão de que se comunicavam pouco, mas de que às vezes é difícil lidar com o que o outro traz, perguntando, então, como era escutar a fala do outro sobre o seu trabalho e que expectativa que tinham sobre seus usuários. Os envolvidos no conflito inicial de Joana falaram da dificuldade que foi sentirem-se julgados por sua atuação e de como isso era uma parte tão inevitável quanto difícil de trabalhar em equipe na saúde mental, especialmente quando diante de situações extremas.

“Acho que idealizamos a nós mesmos e muitas vezes a nossos usuários também…” alguém completa.

Gustavo finalizou o encontro dizendo ter ficado com a imagem de uma equipe alinhada, com uma linha os ligando uns aos outros, não como uma equipe em fila indiana com todos nas mesmas posições.

Todos nos agradeceram muito ao final e marcamos nosso retorno para o ano seguinte. Nos presentearam ao fim com dois quadros, um para cada, feitos pelos usuários em uma das oficinas terapêuticas do serviço.

Discussão – Do CAPS ao CAOS e de volta outra vez

Retomando nosso objetivo inicial de refletir sobre as marcas contratransferenciais que se reproduzem nos espaços intersubjetivos das equipes, e que se põem em trabalho nas supervisões clínico-institucionais, destacamos alguns pontos que se apresentaram nesta cena clínica e que nos pareceram significativos tanto das dinâmicas intersubjetivas das equipes que trabalham com a clínica AD, quanto dos dinamismos psíquicos que enxergamos em nossos usuários. 

Dialogamos neste ponto com a proposição de Decio Gurfinkel (2011), que retoma a ideia de uma adicção de transferência proposta inicialmente por Elsa Garzoli (1996), procurando circunscrever alguns efeitos transferenciais que nos permitiriam distinguir a experiência transferencial das adicções dos campos da neurose, psicose e perversão, ainda que reconhecendo que as adicções possam se apresentar de diferentes formas em cada uma dessas configurações. Diz o autor:

Destaquei, anteriormente, os seguintes aspectos como distintivos de uma adicção: uma ação de caráter impulsivo e irrefreável; um estado de escravização diante do objeto; a fetichização e a coisificação, com a degradação da relação objetal correlata; o caráter de neonecessidade; a impulsividade, a pertinência ao campo do colapso do sonhar e o parentesco com as neuroses atuais; a compulsão à repetição e o automatismo; o paralelismo com o estado maníaco e a defesa dissociativa; a patologia da dependência envolvida; e, por fim, a sua dimensão passional. Ora, este conjunto de aspectos se faz presente, em maior ou menor grau, na transferência de pacientes adictos, pois nela observamos a coisificação e degradação da qualidade da relação objetal, a busca voraz por gratificação, a urgência imperiosa e a necessidade inadiável do objeto-coisa, o empobrecimento geral da atividade simbolizante, dos meios expressivos e da qualidade da comunicação intersubjetiva, a repetição compulsiva, a alternância entre uma posição onipotente-maníaca e uma posição suplicante por substâncias alimentadoras, a adesividade do vínculo e, ainda, de modo característico um convite para uma “viagem especial” e a proposta de um pacto com um mundo paralelo, que regularmente a acompanha. (Gurfinkel, 2011 p. 446) 

Concordamos com a proposição de Gurfinkel, e poderíamos mesmo remontar à Olievenstein (1989) para nos lembrar que a transferência, nas adicções, é lugar de reeditar uma experiência de dependência, uma neo-dependência transferencial, com todos os ruídos e desafios que isso impõe ao vínculo e à ética analítica, nessa tarefa tão quase-perversa que é o compromisso legislativo para o aprendizado gradual da não-dependência para dependentes. (Olievenstein, 1989)

Não é nenhuma novidade na discussão psicanalítica, no entanto, o testemunho de que as instituições de cuidado tendem a reproduzir em seu interior a dinâmica sintomática sobre a qual é sua tarefa debruçar-se! Diversos autores contribuem com essa discussão desde Bleger (1984;1991), mas gostaríamos de conversar aqui especialmente com a proposta que vem sendo desenvolvida por Jean-Pierre Pinel (1989; 2019), importante autor contemporâneo de psicanálise de grupos francesa, que conceitua como homologia funcional.

“O autor nos propõe pensar que esta forma de funcionamento das equipes homóloga ao sintoma “resulta de uma internalização e de uma reprodução dos principais mecanismos de defesa dos sujeitos acolhidos”, relacionada com os processos massivos de identificação projetiva colocados em voga por nossos usuários na tentativa de convocar o psiquismo do outro a simbolizar aquilo que não foram capazes.”

O autor nos propõe pensar que esta forma de funcionamento das equipes homóloga ao sintoma “resulta de uma internalização e de uma reprodução dos principais mecanismos de defesa dos sujeitos acolhidos” (Pinel, 1989 p.79), relacionada com os processos massivos de identificação projetiva colocados em voga por nossos usuários na tentativa de convocar o psiquismo do outro a simbolizar aquilo que não foram capazes. Este funcionamento homólogo seria, dessa forma, não exatamente um empecilho à tarefa clínica da equipe, mas a principal alavanca do processo clínico institucional, a principal via de comunicação e metabolização das experiências não simbolizadas de nossos usuários, que tomam o próprio espaço intersubjetivo da equipe como palco, exigindo um trabalho específico sobre esta dinâmica. 

Isto quer dizer que os profissionais devem encontrar-criar apoios para dar forma compartilhável a esse interagir desafiador, que surge sempre no imprevisto e na sideração, na disrupção da para-excitação e que, portanto, comporta sempre um potencial traumático. Para entrar no processo de dar figurabilidade, os profissionais terão que consentir em ser intimamente capturados pelo agir, e com seus corpos. Entrar na cena, suportá-la, para secundariamente constituí-la como matriz de uma narrativa, formando o umbigo do processo institucional. (Pinel, 2019 p. 14) 

Não se trata nesse sentido de censurar essa repetição, mas, como diz Pinel, de encontrar-criar apoios suficientes para que este campo de experiências brutas e parcialmente traumáticas possam ganhar um status narrativo capaz de acolher e conter o potencial disruptivo das vivências tão profundamente perturbadoras que nossos usuários nos comunicam! Vemos em nossa cena clínica como a supervisão parece ser um espaço privilegiado para tal.

Bem, se já conhecemos algo sobre a neo-dependência na experiência transferencial no vínculo terapêutico, o que podemos dizer sobre essa experiência em seu registro institucional, levando-se em consideração todo este registro de comunicações contratransferenciais cuja manifestação reconhecemos nas relações intersubjetivas de uma equipe clínica? Ou, colocando os autores em diálogo, que elementos de uma homologia funcional poderíamos enxergar em uma contrafissura institucional?

Um dos elementos que nos parece mais central dessa experiência e que se escancara na cena clínica que apresentamos parece ser o que Pinel chama de uma fratura grupal entre uma imago tirânica e uma imago devotada. Qualquer um que tenha tido contato com a clínica AD certamente já testemunhou essa discussão em que parte dos profissionais são identificados como portadores de uma atuação perversa e truculenta, enquanto outra parte identificada como autora de uma intervenção complacente e frouxa. Uns são muito “moralistas” e outros “passam muito a mão na cabeça” e, não raro, a discussão se faz em tons acalorados, quando não verdadeiramente violentos, oferecendo o palco para toda a reencenação das cisões internas de nossos pacientes na equipe e toda a descarga pulsional das agressividades que o cuidado com as patologias limites exige conter.

Encontramos no trabalho de Henry Krystal (1997) a discussão bastante clara de como esta cisão se dá desde a própria experiência transferencial do paciente drogadito, permitindo-nos ampliar nossa discussão sobre o fenômeno. O autor observa que, quando pacientes altamente ambivalentes têm à sua disposição uma equipe clínica, eles irão usá-la com o propósito de cindir suas transferências. Dessa forma eles podem experimentar sua raiva e destrutividade com um membro da equipe enquanto preservam uma relação amorosa básica com outro.

Sobre este ponto é importante lembrar que, seja do lado dos trabalhadores, seja do lado dos pacientes, a instituição de cuidado impõe diferentes objetos transferenciais com níveis de relações complexas, em constante cruzamento, que nos mobilizam psiquicamente de maneira intensa e das formas mais diversas. Não é difícil, por exemplo, imaginar que a transferência com a referência amada que cuida dos cabelos será muito distinta da transferência dirigida aos enfermeiros responsáveis por manter a ordem na enfermaria. Podemos pensar dessa forma que a cena clínica institucional oferece um palco privilegiado para estas formas de cisão da transferência, especialmente quando diante de experiências psíquicas em si já tão inundadas pelas cisões e dissociações, como é o caso das adicções.

Krystal (1997), no entanto, vai além. Argumenta que esta cisão guarda um aspecto absolutamente necessário para a estabilização de uma aliança terapêutica inicial. Krystall (1997) defende que nas terapias individuais esta relação inicial frequentemente fracassa, uma vez que a ambivalência intensa provocada pela aparição de um objeto terapêutico bom faz gerar os sentimentos massivos de medo de perda, inveja e ódio, que fazem com que os pacientes se tornem aterrorizados de que possam vir a destruir seus terapeutas. A presença da equipe e a possibilidade de cindir estas mobilizações em diferentes terapeutas permite, dessa forma, que se estabilize uma relação inicial positiva com a instituição, trazendo por outro lado desafios importantes em termos de manejo, como vimos nos conflitos evocados entre os profissionais na cena apresentada. Cria-se, assim, a possibilidade de comunicar toda a intensidade destrutiva do ódio siderado, preservando-se com outro ponto do quadro uma relação boa.

“O autor argumenta ainda que estas imagos tiranas e devotadas seriam paralelas às figuras idealizadas cujo amor e admiração os pacientes clamam, e às figuras rejeitadoras e condenatórias, a quem o paciente teme e odeia, havendo ainda espaço para as figuras sedutoras e intrusivas de suas relações objetais.”

O autor argumenta ainda que estas imagos tiranas e devotadas seriam paralelas às figuras idealizadas cujo amor e admiração os pacientes clamam, e às figuras rejeitadoras e condenatórias, a quem o paciente teme e odeia, havendo ainda espaço para as figuras sedutoras e intrusivas de suas relações objetais. No caso discutido no decorrer do encontro pudemos ter um testemunho da intensidade das experiências de violência guardadas na biografia da paciente, que ameaçam a destruição do enquadre quando precisam ser comunicadas.

Este fenômeno de cisão na equipe seria também, neste sentido, um efeito próprio de uma comunicação transferencial do paciente, reexperienciada contratransferencialmente entre os próprios membros da equipe, e teria tanto a função de estabilização de um vínculo terapêutico inicial, quanto o de reencenar aspectos fundamentais a serem trabalhados pelos profissionais em seus registros contratransferenciais para abrir caminho à sua função de simbolização dos dilemas fronteiriços transferidos por seus pacientes.

Entendemos, neste sentido, que a equipe se oferece como um receptor mais adequado destas experiências de destrutividade, guardando-as em um lugar mais seguro que possa vir a ser alvo de elaboração futuro, mas exigindo um trabalho específico sobre estes restos. Dialogando com a clássica formulação winnicottiana no trabalho com pacientes altamente regredidos, parece-nos que é necessário neste trabalho em equipe poder suportar o ódio na intertransferência (Nascimento, 2020), como forma de dar um melhor destino às intensidades disruptivas do ódio na contratransferência (Winnicott, 1947/2000).

O que estas proposições nos trazem é que o caminho de contenção destas rupturas se fará necessária a toda e qualquer equipe, por mais unida e sintônica que seja, por se tratar de uma necessidade defensiva do paciente de preservar os aspectos bons de sua realidade psíquica. A tarefa da equipe será, neste sentido, poder receber estas cisões, possivelmente até repetindo-as em seu interior, para posteriormente reagrupar estes elementos transferidos em uma narrativa compartilhável, contendo assim uma parte de sua destrutividade.

O que vale, para Pinel (2019), é justamente a heterogeneidade da equipe, que permite ressoar as diferentes partes cindidas da narrativa, sendo que os membros ausentes do contato imediato ganham importância fundamental, tanto pelo fato de receberem elementos psíquicos distintos, quanto pelo fato de estarem distantes da carga traumática da cena inicial. É a multiplicidade de relações dentro da equipe que permite aplainar o ataque aos vínculos e oferecer resistência à destrutividade do ato, podendo assim “barrar a compulsão à repetição tolerando paradoxalmente sua implantação, porém parcial, fragmentada. Permite oferecer uma resposta alternativa e a introdução de uma lacuna.” (Pinel, 2019, p. 15). Trata-se desta forma de um trabalho de resistir à ruptura por meio de uma rede vincular que permite ser tocada parcialmente pela destrutividade para então reinscrevê-la em uma forma mais compartilhável.

É desta forma que compreendemos a cisão que vai progressivamente tomando o centro do encontro da equipe na supervisão apresentada, entre manejos bons e manejos maus, e entre profissionais policialescos e profissionais indisciplinados, e também a dificuldade em poder integrar e se utilizar da heterogeneidade que a compõe. Neste ponto, vemos como a supervisão pode oferecer o palco necessário para a reedição deste dilema transferencial, assim como oferecer um enquadre possível para a sua superação, claro, sempre parcial. 

É interessante observar, por exemplo, as diversas mudanças bruscas e intensas de clima no encontro, que vão passo a passo trazendo à baila e pondo em choque elementos cindidos que circulam nas diversas partes da experiência da equipe. Mas, curiosamente, o que testemunhamos ao fim do encontro, tanto no conteúdo quanto no clima apresentado, não é uma equipe cindida e defendida, mas uma equipe mais maleável, criativa etc. Muito pelo contrário, parece-se retomar no decorrer do encontro uma certa pulsionalidade erótica no espaço intersubjetivo da equipe, em contraponto às ameaças destrutivas do trabalho de morte (Tânatos) que se faz necessário a toda e qualquer instituição. (Enriquez, 1991)

Outro ponto, que nos chama atenção na cena clínica, que se coloca como elemento importante para pensarmos na contrafissura institucional e que guarda relação com a cisão descrita, são as idealizações extremas de que a equipe é alvo e que parecem se reproduzir em suas próprias proposições.

Entendemos estas idealizações como um efeito da adesividade dos profissionais às experiências de êxtase suscitadas no contato terapêutico bom, que se dá em paralelo à necessidade de coisificação do par paciente-analista. Se o terapeuta precisa inicialmente poder ocupar este lugar de quase-fusão da droga, reeditando no plano vincular uma experiência de dependência (Olievenstein, 1989; Gurfinkel, 2011), é de se esperar que seja alvo extremo de idealizações, expulsando para fora (ou para dentro de algum outro da equipe), como vimos, qualquer vestígio das experiências de rejeição.

“É curioso neste ponto observar quão frequentemente as equipes se relacionam com seus saberes da mesma forma fissurada, idealizada e hiperinvestida, deixando pouco espaço para a circulação dos não saberes, das dúvidas, das figuras da falta. Repete-se no interior da equipe, e nesta forma de interação aditiva, um colapso do campo do sonhar (…)”

É curioso neste ponto observar quão frequentemente as equipes se relacionam com seus saberes da mesma forma fissurada, idealizada e hiperinvestida, deixando pouco espaço para a circulação dos não saberes, das dúvidas, das figuras da falta. Repete-se no interior da equipe, e nesta forma de interação aditiva, um colapso do campo do sonhar (Gurfinkel, 2011), que dificulta as possibilidades de simbolização da aparelhagem psíquica grupal. Lafraia (2019), em sua discussão sobre o importante trabalho onírico à que se prestam inconscientemente as equipes, chama essa capacidade ao negativo de terceiro dentro:

Trata-se do que optamos por chamar de terceiro dentro e que compreende a instauração no interior do espaço comum e partilhado da equipe de lugar disponível para o negativo, a falta, o não-saber, a diferença, a ambivalência, o paradoxo, a complexidade, a conflituosidade. Remete a um espaço livre, que permite movimento e reverberação, e onde pode caber e ser tolerado um tanto do que é informe e indeterminado. Está em estreita relação com a qualidade das membranas que mantêm as necessárias distâncias e diferenciações internas e com aquela que envolve o espaço psíquico comum e compartilhado. (Lafraia, 2019, p. 124)

Vemos em nossa cena clínica como esse espaço se apresenta continuamente ameaçado e, em diversos momentos, parecemos testemunhar uma inundação das vias associativas que dificulta o processo de elaboração. A intervenção que o manejo da supervisão põe em movimento pode ter uma função importante em questionar este registro do ideal e do excesso que circula e captura a equipe, restaurando lacunas que contribuem para a retomada de um processo de simbolização, para o qual é necessária uma certa diminuição das intensidades. 

É curioso neste ponto observar a reação da equipe à intervenção final de Gabriela. Apesar de dura e incisiva a intervenção, que se dirige justamente às idealizações partilhadas de uma equipe que deve ser quase perfeita, parece gerar na equipe um efeito de pára-excitação que muda completamente o clima do encontro, recolocando em cena uma certa depressividade reflexiva.

Neste ponto, entendemos que a função clínica que a supervisão pode operar sobre o aparelho psíquico grupal da equipe muito se assemelha ao lugar do analista frente à problemática do usuário de drogas, que como nos indicava Olievenstein (1989) é antes de mais nada uma clínica das intensidades e muito menos das causalidades. A intervenção sobre a qualidade das relações subjetivas que circulam na equipe parece ser um caminho necessário para a restauração das vias associativas inundadas pela excitação, ou como diz Lafraia (2019) “Em um universo de medo, insegurança e ameaça, não se pode sonhar.” (Lafraia, 2019, p. 74). 

É ainda interessante notar o quanto se reproduz na transferência com a própria supervisora essa mesma marca embalsamada que vemos muitas vezes na transferência boa com nossos usuários. As palavras, ora de um supervisor, ora de outro, parecem vir também emanadas desse tom idealizado, suavizante, que abranda as intensidades destrutivas, ou, em oposição, carregadas de uma projeção agressiva e condenatória. Este último elemento, que não cabe à cena clínica apresentada, foi profundamente vivenciado nos inícios da intervenção com a equipe, repetindo sobre os supervisores e entre os próprios, os mesmos jogos de cisão que descrevemos acima.

Outro ponto que se relaciona com este último, que vemos surgir com força nas dinâmicas aditivas que circulam no interior da equipe, é a urgência que se manifesta na busca imediata de um objeto apaziguador das angústias e no frenesi Tazmaníaco de que se contaminam os profissionais, que nos faz lembrar da proposição célebre de Olievenstein de que “em matéria de toxicomania, a urgência é esperar…” (Domic, 2019, p.58)

Novamente é interessante pensar o quanto esse registro da intensidade atrapalha a capacidade simbólica da equipe e contribui para as cisões que se põe em cena, assim como atrapalha os caminhos de remontagem narrativa das mesmas. Mais uma vez o enquadre do encontro de supervisão parece contribuir para a experiência de uma outra temporalidade em equipe e para outra forma de comunicação muito distante do ritmo das reuniões clínicas em que a necessidade de se direcionar o manejo impede o surgimento de lacunas do negativo, ou das comunicações imediatas feitas por Whatsapp dos quais os profissionais se queixam de os deixarem sempre em alerta.

Por fim, gostaríamos de apontar para um último elemento que se coloca continuamente em voga no campo das drogadições e que nos exige atenção: a contínua fronteira com o campo das perversões e a ameaça de trespassar esses limites.

Ora, não é de hoje que se pensa sobre a problemática das adicções continuamente embrenhada na discussão sobre as perversões. O adicto trespassa o campo da fantasia agindo diretamente na realidade material, o que implica muitas vezes em uma forte crise de confiança, conferindo ao usuário de drogas um aspecto de degradação do caráter e uma associação, que se evidencia em muitos casos, com os atos e condutas antissociais (Gurfinkel, 2011).

Historicamente, a discussão sobre a transferência no campo das adicções surge justamente de uma tentativa de destacá-la do campo das perversões reconhecendo pontos de aproximação e distinção entre ambos. Basta pensarmos no texto célebre de Olievenstein (1989), que procura marcar os princípios éticos para uma psicoterapia perversa para lembrarmos para lembrarmos que estes campos seguem em grande parte imiscuídos.

Não caberia a esta nossa comunicação o aprofundamento e a discussão acerca dos possíveis pontos de aproximação e divergência entre os campos, ainda que ela siga bastante atual e com necessidade de novos aportes, mas apontar a insistência desta questão em nossa cena clínica e a dificuldade do manejo que ela nos impõe, e aqui deixaremos mais pontos em aberto.

“O que será que estaria sendo comunicado do ponto de vista transferencial na insistência desta fantasia de abuso sexual, ora de um, ora de outro, que é posta em cena gerando tremendo embaraço e com um tremendo potencial destrutivo?”

Chama-nos atenção, por exemplo, a insistência constante do receio das manipulações por parte dos usuários do lado da equipe e a insistência na cena clínica apresentada, que apenas nos atentamos quando escrevemos o relato da vinheta, da acusação de uma sexualidade perversa que estaria sendo posta em cena pelos profissionais sobre os usuários, na perspectiva da fantasia destes últimos. O que será que estaria sendo comunicado do ponto de vista transferencial na insistência desta fantasia de abuso sexual, ora de um, ora de outro, que é posta em cena gerando tremendo embaraço e com um tremendo potencial destrutivo?

Não conseguimos formular uma resposta para este dilema, que parece se comunicar com um aspecto central das fantasias que circulam tanto na cena que comunicamos, quanto no trato com nossa clínica em geral, mas sugerimos algumas pistas. 

Para Gurfinkel (2011), a marca de maior distinção entre ambos os grupos seria o predomínio do desafio nas perversões e da coisificação do lado das adicções, ainda que em ambos reconheça uma marca de degradação do campo relacional. A nós parece que, apesar da observada proximidade de ambos os casos, a especificação de uma adicção de transferência se faz justificada e estratégica, na medida em que, no corpo a corpo do vinculo terapêutico a compreensão de determinadas modulações transferenciais a partir da ótica da perversão parece-nos fazer ceder ao desafio, trazendo importantes desdobramentos em termos de manejos que levam ao embate, deixando de lado a problemática que entendemos como mais grave e originária, a do desamparo e da falta de confiabilidade na relação.

Em termos gerais diríamos que entre o prazer na dor e o prazer para fugir da dor há um pequeno hiato que parece mudar significativamente a maneira como nos dispomos a certas experiências postas no jogo transferencial, sob o risco de repetirmos o traço perverso também em nosso cuidado. Mas o debate certamente é complexo

Conclusão

Retomando nosso objetivo inicial de refletir sobre as marcas contratransferenciais que se reproduzem nos espaços intersubjetivos das equipes, e que se põe em trabalho nas supervisões clínico-institucionais, demarcamos assim alguns efeitos que insistem e que nos demandam um trabalho específico.

São eles o sentido de urgência/imediatismo, que se manifestam na busca imperiosa por um objeto (neste caso, um objeto de conhecimento) apaziguador, mantendo a equipe em um estado de pensamento fissurado, as idealizações extremas que acompanham a formulação destes objetos e a relação entre os profissionais e o trabalho, a marca de uma ameaça constante de uma passagem ao ato perverso, que neste caso surge a partir da fantasia de uma sexualidade perversa na relação entre usuários e equipe, e por fim, a cisão entre objetos parciais que impõe uma constante cisão da equipe entre manejos bons e manejos maus, acompanhada de uma dificuldade em poder integrar e se utilizar da heterogeneidade que a compõe.

Sugerimos que estes aspectos não sejam vistos apenas como repetição inconveniente das experiências de nossos pacientes, mas a própria alavanca do processo clínico-institucional, demandando um trabalho específico sobre estes restos transferenciais que se põe em movimento no espaço intersubjetivo da equipe permitindo tanto o aplainamento dos ataques ao vínculo, quanto a simbolização das experiências traumáticas comunicadas pelos usuários.

Apontamos que a intervenção da supervisão clínico-institucional pode ter um efeito importante de amenizar as intensidades do grupo, questionar os ideais inflados e oferecer uma resistência às cisões, permitindo reestabelecer as condições para os processos de elaboração simbólicos paralisados pelas inundações excitatórias.


Referências

Bleger, J., (1991). O grupo como instituição e o grupo nas instituições. Em R. Kaës et al. A Instituição e as Instituições, (pp. 59-71). São Paulo: Casa do Psicólogo.

Bleger, J. (1984) Psico-higiene e psicologia institucional. Porto Alegre: Artmed. 

Domic, Z. (2019). A casa Marmottan de Paris: Centro médico psicossocial experimental para toxicômanos. Em D. Reale, M. Cruz. (orgs) Toxicomania e adições: a clínica viva de Olivenstein. (pp. 43-71) São Paulo: Benjamin Editorial.

Enriquez, E. (1991). O trabalho de morte nas instituições. Em R. Kaës et al, A Instituição e as Instituições. (pp. 73-101). São Paulo: Casa do Psicólogo.

Garzoli, E. (1996). La adicción de transferencia. Acerca del análisis de una paciente alcoholica. Psicoanálisis APdeBA, Buenos Aires, Vol. XVIII n.2.

Gurfinkel, D. (2001). Do Sonho ao Trauma: psicossoma e adicções. São Paulo: Casa do Psicólogo

Gurfinkel, D. (2011). Adicções: paixão e vício. São Paulo: Casa do Psicólogo. 

Krystal, H. (1997). Self representation and the capacity for self care. Em D. Yalisove (Org.). Essential papers in psychoanalysis. Essential papers on addiction (pp.109-146). New York University Press, 1997.

Lafraia, L. M. (2019). Espaço onírico e trabalho institucional: condições do sonhar compartilhado das equipes em instituições de cuidado. (Dissertação de mestrado). USP, São Paulo, SP.

Lafraia, L.M.; Castanho, P. (2021). Sonha-se em equipe? Ágora. Rio de Janeiro, v. XXIV, n.1, (pp. 82-90).

Lancetti, A. (2015). Contrafissura e plasticidade psíquica. São Paulo: HUCITEC.

Nascimento, G.C.G., Oliveira, M. A. F., & Soares, R. H. (2020) Psicopatologia dos objetos transicionais: o olhar de Winnicott para a clínica das adicções. Psicologia em Revista. V. 26, n.3, (pp. 901-920).

Nascimento, G.C.G. (2020) Instituição adicta: efeitos transferenciais da clínica institucional das drogadições. (Dissertação de mestrado). USP, São Paulo, SP.

Olievenstein, C. (org.). (1989). A clínica do toxicômano: a falta da falta. Porto Alegre: Artes Médicas.

Pinel, J.-P. (1989). Les fonctions du cadre dans la prise en charge institutionnelle, Revue de psychotérapie psychanalytique de groupe, n. 13, (pp. 77-87). 

Pinel, J.-P. (2019). Le traitement insitutionnel du processus adolescent: destins de les pathologies du lien et de la présence. Comunicação oral à Jornada Internacional Vínculos Intersubjetivos e Instituições, realizado em São Paulo, pelo Instituto de Psicologia da USP, em 24 de abril de 2019. 

Winnicott, D. W. (1947/2000). O ódio na contratransferência. Em Da pediatria à psicanálise obras escolhidas. (pp. 277-287). Rio de Janeiro: Imago.


Gustavo Chiesa Gouveia Nascimento é membro da ABRAMD Clínica, Psicólogo psicanalista, especialista em saúde mental e mestre em Psicologia Clínica pelo IPUSP. Atualmente membro dos grupos de pesquisa CLIGIAP (Clínica de Grupo e Instituições: Abordagem Psicanalítica) do IPUSP e LIPSIC (Laboratório Interinstitucional de Intersubjetividade e Psicanálise Contemporânea – PUC/USP). Atua como analista em consultório particular, analista de práticas em instituições de saúde e como membro do PROMUD (Programa da Mulher Dependente Química do HC FMUSP).

Gabriela de Albuquerque Fernandes Machado Galvão é Formada pela PUC-SP, Trabalhadora do SUS, Ativista pela Redução de danos e direitos humanos, Integrante da Casa EcoAtiva (Ilha do Bororé) e Coletivo Afetiva.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*